O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) realizará em 26 e 27 de setembro o seu 7o Congresso Nacional. Milhares de filiados já participaram da etapa municipal/estadual do evento e outros milhares ainda o farão nas próximas semanas. Espera-se que cerca de 30 mil filiados compareçam à votação das teses em disputa.
O futuro do PSOL está em questão em um momento crucial da história do país, no qual um governo genocida com pretensões golpistas permanece no poder. Entre outras coisas, os filiados definirão se o partido se colocará como instrumento útil para derrotar Bolsonaro nas lutas e nas eleições, defendendo a construção de uma frente de esquerda. Ou se, ao contrário, optará pela linha do isolamento, priorizando as diferenças dentro do campo da esquerda, ao invés de privilegiar a unidade antifascista.
Fundado em 2004, o PSOL soube manter erguidos a bandeira e o programa da esquerda socialista quando o PT escolheu governar em alianças com setores da burguesia e da direita, abrindo mão do projeto de transformações estruturais do país. Corretamente, o partido não entrou nos governos Lula e Dilma, preservando, ao longo desse período, uma postura coerente e combativa em defesa dos interesses dos explorados e oprimidos.
Mas, quando a direita e a burguesia resolveram derrubar Dilma Rousseff, a fim de aplicar um programa de destruição de conquistas sociais e democráticas da classe trabalhadora, o PSOL não vacilou e cerrou fileiras na luta contra o golpe parlamentar e o processo reacionário deflagrado a partir de 2015. O partido enfrentou o golpe nas ruas e no Congresso, denunciando seus objetivos nocivos ao povo, assim como seus instrumentos autoritários, como a Lava Jato comandada pelo ex-juiz Sérgio Moro.
Confrontando o governo de Bolsonaro, sem abandonar o programa anticapitalista e a defesa dos interesses imediatos da classe trabalhadora em todas suas expressões — a luta antirracista, feminista, LGBTQIA+, indígena, sindical, ambientalista, por moradia, por terra para plantar, entre tantas outras —, o PSOL cresceu e se fortaleceu. Nessa batalha contra o neofascismo, o partido perdeu Marielle Franco, executada por milicianos no Rio de Janeiro em 2018.
Nos últimos anos, o partido, além de ter conquistado novos postos parlamentares, aumentou de modo significativo o número de filiados e de militantes orgânicos. O PSOL também teve, nesse período, um significativo ganho político com a entrada de Guilherme Boulos, uma das principais lideranças da esquerda brasileira na atualidade, e de muitos outros militantes do MTST, um dos mais relevantes e combativos movimentos sociais do país.
Participando ativamente das principais lutas sociais, como a batalha contra a reforma da previdência e a trabalhista, o Ele Não, o Vira Voto no 2o turno das eleições de 2018, o Tsunami da Educação, os atos antirracistas e a campanha Fora Bolsonaro, e se apresentando como alternativa de esquerda nas eleições, o PSOL avançou. O partido, que reúne diversas correntes internas e independentes, com programas, políticas e estratégias nem sempre coincidentes, tem limites e problemas que precisam ser superados. Mas o balanço político geral, como se pode ver, é positivo.
A batalha decisiva: a frente única da esquerda para as lutas e as eleições
Importa ressaltar que o PSOL não se basta. Apesar do seu crescimento, é ainda um partido minoritário na esquerda brasileira e na classe trabalhadora. Nesse momento perigoso da história brasileira, em que um presidente fascista declara abertamente seus planos golpistas, nada é mais importante que derrotar Bolsonaro nas ruas e nas eleições. Para isso, é chave a construção da unidade da esquerda, materializada na frente de partidos (PSOL, PT, PCdoB, PCB, UP, PSTU) e movimentos sociais (sindical, negro, feminista, LGBTQI, sem-teto, sem-terra, indígena, ambientalista, estudantil, entre outros).
Essa Frente Única de esquerda, que organiza a Campanha Fora Bolsonaro, foi fundamental para a realização dos quatro últimos grandes atos nacionais contra o governo genocida. Diante da atual campanha golpista de Bolsonaro, é preciso manter e avançar na batalha das ruas, não permitindo que o bolsonarismo recupere protagonismo. No dia 07 de setembro, é necessário voltar às ruas com peso, demonstrando que a maioria do povo quer o fim desse governo da morte e não aceita ameaças golpistas.
Porém, a unidade da esquerda não pode se limitar à organização da luta pelo Fora Bolsonaro. É necessário construir uma alternativa de poder, que apresente um projeto de transformação social do país dos e para os explorados e oprimidos. Por isso, consideramos que o PSOL deve defender a unidade da esquerda e dos movimentos sociais também nas eleições.
Lula, por sua força junto à classe trabalhadora e ao povo pobre, é o nome mais indicado para ser o candidato a presidente por uma frente de esquerda. O ex-presidente é visto pela maioria do povo trabalhador como a alternativa para derrotar Bolsonaro, tanto que está liderando todas as pesquisas eleitorais. Reconhecemos e valorizamos isso, mas não concordamos com a política de alianças do líder petista, que visa, outra vez, costurar acordos com setores do centrão e da direita tradicional. Sabemos que essas mesmas alianças nos governos petistas bloquearam mudanças estruturais e abriram portas para o golpe da direita. Basta lembrar que Michel Temer era o vice de Dilma Rousseff.
Em razão desses fatores, consideramos que o PSOL deve aprovar em seu Congresso a luta pela Frente de Esquerda para as lutas e as eleições, sem alianças com a direita e com um programa de reversão de legado do golpe e em defesa de transformações sociais e econômicas estruturais. Optar pelo isolamento, como quer alguns setores do partido, que defendem que o PSOL lance desde já candidatura própria a presidente, provocará, muito provavelmente, um grave retrocesso ao partido. Priorizar as críticas ao PT agora, ao invés de centrar fogo na luta unitária contra o neofascismo, significará isolar o partido dos setores mais conscientes da classe trabalhadora e da juventude, que querem pôr fim ao governo Bolsonaro. As críticas à política de alianças de Lula e aos limites de seu programa, podem e devem ser feitas, mas precisam estar vinculadas à luta sincera e ativa pela unidade da esquerda para derrotar Bolsonaro.
Nesse momento, o maior desafio do PSOL é continuar a ser útil na luta contra Bolsonaro numa conjuntura de acirramento da crise política e social. Construindo a Frente de Esquerda, o PSOL ampliará seu espaço de diálogo junto aos trabalhadores e à juventude, inclusive para apresentar o seu programa de transformação socialista do país e avançar na construção do próprio partido.