“A vida é breve, a arte, longa”
Hipócrates
O que define uma vida? Quando nascemos somos uma folha em branco. O meio social, a família, as experiências cotidianas, nosso trabalho, nossas opções e recusas definirão quem seremos, quem fomos. Hoje nos deixou uma pessoa que fez das opções de vida a definição de uma grande obra. Fátima da Silva Fernandes optou por dedicar sua vida a luta social pela transformação da sociedade brasileira.
Essa luta se confundiu com seu trabalho como professora da rede pública, como mãe, como mulher, como construtora de organizações políticas revolucionárias.
Na década de 80, em Ribeirão Preto, ajudou a construir a Convergência Socialista na luta contra a ditadura e pela redemocratização. Nas décadas de 90 e na primeira década desse século foi a principal impulsionadora do PSTU nessa cidade. Mais recentemente foi fundamental para a construção da Resistência, organização política de combate atuante em todo o Brasil nos movimentos de Juventude, de mulheres, negros, Lgbtq+, sindical e popular que tem sua expressão partidária no PSOL. Os nomes das organizações mudam, mas a coerência e o fio de continuidade histórico de sua luta permaneceram.
Militante histórica da corrente trotskista em Ribeirão Preto, Fátima foi a referência para quatro gerações de militantes socialistas. Destacou-se como liderança do movimento estadual de professores tendo sido algumas vezes diretora da APEOESP. Também foi candidata a prefeita de Ribeirão Preto nos anos de 1996 e 2004.
Nesses dias de pandemia, estava inquieta, pois sua idade e as enfermidades contra as quais lutavam a impediam de estar na linha de frente das ações de solidariedade e de protesto contra o governo genocida de Bolsonaro. Mas, mesmo assim, organizava reuniões online com a militância, ajudava com suas observações e conselhos. Estava muito preocupada com a forma como o estado brasileiro tratava os idosos nessas horas difíceis e, por isso, construía uma reflexão a esse respeito.
Em suas últimas ações de organização ajudou a impulsionar a pré-candidatura do companheiro Mauro Inácio a prefeito pelo PSOL, a chegada da Resistência à diretoria do sindicato dos servidores municipais de Ribeirão Preto, um curso de formação política para os militantes da Resistência e as ações de solidariedade da subsede da Apeoesp Ribeirão que arrecadava alimentos para professores em situação de risco. Sua vida foi a de lutar contra injustiças, de defender os direitos dos trabalhadores e de construir organizações socialistas revolucionárias. Seu legado certamente permanecerá na luta de seus companheiros da Resistência, da APEOESP e do PSOL. Amou e celebrou a vida.
Mesmo em seu incansável combate contra as enfermidades, organizava confraternizações com os amigos e arrumava forças para celebrar. Guerreira é a palavra que a melhor definia.
Sêneca nos diz que “a vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas”. Assim foi a vida de Fátima, generosa e com muitas tarefas importantes realizadas. Na vida e na luta, muitos são necessários e alguns imprescindíveis. Fátima era imprescindível.
Fátima presente!!! Até o socialismo e sempre.